Das torpezas modernas que se curam ao ar livre
Sema D'Acosta, Crítico de Arte
Houve um tempo em que a Natureza era uma referencia inquestionável as pessoas respeitavam com grande devoção e veneração os aspectos más ínfimos de nosso meio ambiente entendendo com sabedoria que o equilíbrio que se manifesta no nosso habitat é o mesmo equilíbrio que rege os nossos interiores.
Esse panteísmo saudável servia de contraponto espontâneo que media o aprazível que controlava o tempestuoso, que marcava as estações e determinava o ritmos vitais.
Eram tempos felizes onde infinitos mundos pequenos conviviam separados por ignotas extensões de terra o por mares inquestionáveis.
Nessa época dourada, os mitos e as lendas enriqueciam o imaginário popular com Deuses heróis e historias que davam explicação ao sobrenatural, a todo o mentalmente inabordável.
Com o passar dos séculos, com a vinda de tempos más prosaicos colmados de tecnologia, o mundo converteu-se numa grande superfície baldia guiada por monoteísmos unidireccionais que atrofiam as mentes, aprisionam o espírito e cegam a visão
Afilando as torpezas menos subtis, o homem fez-se dono e senhor do mundo sem respeitar nada, contrapondo os seus critérios e a sua voracidade ao compasso natural das coisas
A arte, realmente, é uma espécie de magia particular, de tarefa reconciliadora que cura debilidades e fortalece os sentimentos interiores.
A arte ensina a olhar o mundo como microcosmos resquícios iluminados que não são mais que estranhas interpretações de uma realidade requebrada, de um território adormecido que necessita espairecer para não cair na letargia do comodismo. Neste panorama de busca, de ensaios de comportamentos abertos, ou próprios, renova o entendimento e oxigena a seiva que nutre as artérias da inspiração
Somos, inevitavelmente, afortunadamente, seres sociais necessitados de aprovações e consentimentos
Nunca saberemos se algo está mal o bem se não o valorizamos de fora se não olharmos com outros olhos que nos ajudem a entender melhor
Quem da sem esperar nada, quem oferece sorridente o que tem, quem distribui, desfruta das satisfações com os outros com a mesma alegria que com as suas próprias inclusive
As diferenças são enriquecedoras, abrem-nos a mente e o espírito aproximam-nos a pontos de vista diferentes, movem-nos, fazem-nos avançar em comunidade.
Convocados pela linguagem universal da arte, da expressão aberta, nove artistas de cinco nacionalidades distintas reuniram-se em Aracena para dar rédea solta a sua criatividade
Os seus interesses não são económicos, regem-se por um altruísmo diligente, fresco, bem intencionado. Tampouco há motivos propagandísticos, nenhum artista busca nada de concreto.
Nenhum quer impor o seu critério nem convencer com as suas ideias ou sentimentos.
Oferecem-se pensamentos mostram-se estados de ânimo, deitam-se fora fobias, medos o detritos solidificados sem maior pretensão que a satisfação pessoal partilhada
Os artistas autênticos necessitam a arte para viver não vivem da arte.
Este simpósio é simplesmente uma chamada plurilingue a respeito pelo discurso interior, por essas vozes interiores que se ocultam e que são reconhecíveis em qualquer idioma.
Não existiam limites prefixados, so havia que ter em conta um ponto de partida comum: tomar elementos do lugar o do meio para construir una peça artística.
Assim de sensibilidade viva. Produzir entre todos una obra global, orgânica, poliédrica, que se exporia no local mais concorrido da cidade a praça do Marquês. Uma espécie de encenação contemporânea com a cuidada direcção teatral de uns regentes de luxo que marcavam pautas mas que davam liberdade de movimentos. Natureza e Arte, um binómio vital que coexiste desde tempos imemoriais.
Quer seja uma escultura ou uma performance, o importante são as reflexões que se colocam e as inquietudes que se movem. FREIRAUM é uma chamada de atenção a convivência respeitosa com o meio, até á reciclagem
E uma busca introspectiva e também global dessa visão desintoxicada em que se refugia a mais pura das sensibilidades que dá vida as nossas sociedades urbanas.
Sociedades cosmopolitas que se esqueceram da essência originária das coisas naturais por culpa do ritmo atroz dos tempos modernos.
É um regresso a Arcádia sonhada, ao Paraíso perdido. E usar a arte como caminho gratificante para a Natureza. O sentir de pleno de uma ecologia tão pura, que de repente, se dulcifica o ar e se abre o sorriso
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