




O centenário Café Aliança, um dos ex-libris da cidade de Faro e um dos três mais antigos do país, deverá desaparecer ainda durante este mês, pelo menos, do histórico edifício onde se encontra. O Tribunal já avisou o proprietário da empresa Café Aliança que está sob uma ordem de despejo, depois de uma queixa do proprietário do edifício por alegado incumprimento das rendas.
“Segundo acordo verbal, as rendas mensais deveriam ser pagas até ao dia 8 de cada mês e isto foi sempre cumprido, tal como ficou provado em tribunal. No entanto, os proprietários do edifício reclamaram junto do tribunal que estas deveria ser liquidadas até ao primeiro dia do mês”, explica Manuel Lopes, proprietário do nome Café Aliança e da respectiva empresa. Desta forma, Manuel Lopes, que explora o espaço desde 2002, não se conforma com a decisão. “Ficou provado que não estava nada em dívida. Mas foi dada razão aos proprietários em relação às datas de pagamento. Por isso não compreendo esta justiça nem estes tribunais”, lamenta Manuel Lopes, esclarecendo que a única vez que o pagamento não chegou a tempo foi há alguns anos, no mês de Dezembro, devido a um problema na transferência bancária. “Mas a situação foi imediatamente normalizada com o pagamento de mais 50 por cento, tal como a lei prevê”.
O antigo proprietário do edifício, José Pedro Silva, era ao mesmo tempo dono da empresa Café Aliança. Porém, acabaria por doar a empresa aos funcionários do café, enquanto o edifício era doando a familiares. Posteriormente, em 2002, Manuel Lopes adquiriu a empresa e passou a ocupar o edifício mediante o pagamento de uma renda aos novos proprietários.
Assim, mesmo que os proprietários do edifício pretendam manter o café, já não será o Aliança, já que esta designação é propriedade de Manuel Lopes.
“Tentei negociar a venda do nome Café Aliança (empresa), mas os proprietários do edifício não aceitaram. Também tentei negociar o recheio do espaço, mas disseram-me que queriam tudo limpo (sem mobiliário). Por isso não me parece que a intenção seja continuar com um café”, conta Manuel Lopes.
O empresário diz que pretende manter a tabacaria e a sala internet, dois espaços contíguos ao Aliança, mas pertencentes a outro senhorio. “Tentarei fazer um mini Café Aliança no outro lado, mas já não será a mesma coisa, pois o café está directamente relacionado com este edifício histórico. Vai perder-se algo que já faz parte da cidade”.
Manuel Lopes conta que tentou negociar uma actualização da renda e que também fez uma oferta de compra do edifício, “para que o Café Aliança não se perdesse, mas os valores exigidos eram tão altos que não consegui acompanhar”, explica. “Da forma como a Baixa de Faro está actualmente, a perder dinâmica a olhos vistos, seria impensável pagar aqueles valores”, prossegue Manuel Lopes, explicando que “já ninguém vem de propósito ao Café Aliança e vivemos, apenas, dos passantes”.
Aliás, a tentativa de alargar o ramo do negócio chegou a ser posta em prática por Manuel Lopes, com a adaptação de parte do café a restaurante. “Tentei fazer restauração, mas acabei por desistir porque surgiu imediatamente um processo em tribunal, por tentar alterar o uso do edifício. O ideal seria ter uma boa sala para jantares e uma cafetaria com um certo nível, pois só com o café esta casa não é viável”.
O empresário conta, ainda, que foi o responsável pelas obras de recuperação no interior do edifício: “O café estava completamente deteriorado. Durante estes anos, investi para manter a sua traça original, de acordo com a exigências do IPPAR e da câmara de Faro. Refiz os tectos decorativos, que estavam a cair, e as canalizações de águas e esgotos. Recuperei, praticamente, todo o edifício”, garante.
Agora, com o encerramento do café, 16 funcionários estão também a ver os seus postos de trabalho em causa. “Vou tentar manter alguns no outro lado, mas será impossível acolhê-los todos”, lamenta Manuel Lopes.
O Jornal do Algarve tentou contactar os proprietários do edifício, mas tal não foi possível até à hora do fecho desta edição.
CAFÉ ALIANÇA-Ponto de encontro de intelectuais e artistas
Tal como a Brasileira, em Lisboa, e o Majestic, no Porto, o Aliança é um dos históricos cafés do país. Em tempos, foi ponto de encontro de ilustres, não só da sociedade farense, mas da região em geral. Foi palco das tertúlias de outrora, que reuniam escritores, intelectuais e artistas. Se as suas paredes falassem e contassem o que ouviram durante estes cem anos, seriam certamente uma das maiores fontes de cultura conhecidas. Mas o Aliança foi também local de passagem obrigatória para outros ilustres das artes, oriundos de fora da região algarvia: Marguerite Yourcenar (na década de 1960), Simone Beauvoir (na década de 1940) ou Fernando Pessoa, que se reuniu ali com os seus colegas futuristas algarvios (entre os quais o pintor Carlos Porfírio) são, apenas, alguns exemplos. Recorde-se que o poeta António Aleixo chegou a vender cautelas no Aliança.
“Segundo acordo verbal, as rendas mensais deveriam ser pagas até ao dia 8 de cada mês e isto foi sempre cumprido, tal como ficou provado em tribunal. No entanto, os proprietários do edifício reclamaram junto do tribunal que estas deveria ser liquidadas até ao primeiro dia do mês”, explica Manuel Lopes, proprietário do nome Café Aliança e da respectiva empresa. Desta forma, Manuel Lopes, que explora o espaço desde 2002, não se conforma com a decisão. “Ficou provado que não estava nada em dívida. Mas foi dada razão aos proprietários em relação às datas de pagamento. Por isso não compreendo esta justiça nem estes tribunais”, lamenta Manuel Lopes, esclarecendo que a única vez que o pagamento não chegou a tempo foi há alguns anos, no mês de Dezembro, devido a um problema na transferência bancária. “Mas a situação foi imediatamente normalizada com o pagamento de mais 50 por cento, tal como a lei prevê”.
O antigo proprietário do edifício, José Pedro Silva, era ao mesmo tempo dono da empresa Café Aliança. Porém, acabaria por doar a empresa aos funcionários do café, enquanto o edifício era doando a familiares. Posteriormente, em 2002, Manuel Lopes adquiriu a empresa e passou a ocupar o edifício mediante o pagamento de uma renda aos novos proprietários.
Assim, mesmo que os proprietários do edifício pretendam manter o café, já não será o Aliança, já que esta designação é propriedade de Manuel Lopes.
“Tentei negociar a venda do nome Café Aliança (empresa), mas os proprietários do edifício não aceitaram. Também tentei negociar o recheio do espaço, mas disseram-me que queriam tudo limpo (sem mobiliário). Por isso não me parece que a intenção seja continuar com um café”, conta Manuel Lopes.
O empresário diz que pretende manter a tabacaria e a sala internet, dois espaços contíguos ao Aliança, mas pertencentes a outro senhorio. “Tentarei fazer um mini Café Aliança no outro lado, mas já não será a mesma coisa, pois o café está directamente relacionado com este edifício histórico. Vai perder-se algo que já faz parte da cidade”.
Manuel Lopes conta que tentou negociar uma actualização da renda e que também fez uma oferta de compra do edifício, “para que o Café Aliança não se perdesse, mas os valores exigidos eram tão altos que não consegui acompanhar”, explica. “Da forma como a Baixa de Faro está actualmente, a perder dinâmica a olhos vistos, seria impensável pagar aqueles valores”, prossegue Manuel Lopes, explicando que “já ninguém vem de propósito ao Café Aliança e vivemos, apenas, dos passantes”.
Aliás, a tentativa de alargar o ramo do negócio chegou a ser posta em prática por Manuel Lopes, com a adaptação de parte do café a restaurante. “Tentei fazer restauração, mas acabei por desistir porque surgiu imediatamente um processo em tribunal, por tentar alterar o uso do edifício. O ideal seria ter uma boa sala para jantares e uma cafetaria com um certo nível, pois só com o café esta casa não é viável”.
O empresário conta, ainda, que foi o responsável pelas obras de recuperação no interior do edifício: “O café estava completamente deteriorado. Durante estes anos, investi para manter a sua traça original, de acordo com a exigências do IPPAR e da câmara de Faro. Refiz os tectos decorativos, que estavam a cair, e as canalizações de águas e esgotos. Recuperei, praticamente, todo o edifício”, garante.
Agora, com o encerramento do café, 16 funcionários estão também a ver os seus postos de trabalho em causa. “Vou tentar manter alguns no outro lado, mas será impossível acolhê-los todos”, lamenta Manuel Lopes.
O Jornal do Algarve tentou contactar os proprietários do edifício, mas tal não foi possível até à hora do fecho desta edição.
CAFÉ ALIANÇA-Ponto de encontro de intelectuais e artistas
Tal como a Brasileira, em Lisboa, e o Majestic, no Porto, o Aliança é um dos históricos cafés do país. Em tempos, foi ponto de encontro de ilustres, não só da sociedade farense, mas da região em geral. Foi palco das tertúlias de outrora, que reuniam escritores, intelectuais e artistas. Se as suas paredes falassem e contassem o que ouviram durante estes cem anos, seriam certamente uma das maiores fontes de cultura conhecidas. Mas o Aliança foi também local de passagem obrigatória para outros ilustres das artes, oriundos de fora da região algarvia: Marguerite Yourcenar (na década de 1960), Simone Beauvoir (na década de 1940) ou Fernando Pessoa, que se reuniu ali com os seus colegas futuristas algarvios (entre os quais o pintor Carlos Porfírio) são, apenas, alguns exemplos. Recorde-se que o poeta António Aleixo chegou a vender cautelas no Aliança.
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